Skip to main content
  1. Blog Posts/

Um esquerdalhas vai ao + Liberdade

·895 words·5 mins

Como turista antagónico xuxalista, começo por dizer que foi um evento bem organizado, com oradores interessantes, num local agradável que conseguiu atrair pessoas de todo o espectro político, desde de membros do BE ao Chega e até monárquicos. À organização do evento e equipa, os meus parabéns. Alguns grupos políticos podem aprender com este tipo de eventos em que se tenta criar um ambiente de convívio e aprendizagem.

Contudo, creio que este evento foi, em algumas das apresentações e debates, muito simplista, chegando a roçar a propaganda.

Durante o evento senti um grande problema de simplificação ou até mesmo ingenuidade, em que oradores e participantes são capazes de identificar problemas sociais, mas para os quais apresentam a solução do mercado como se fosse um feitiço mágico(Mercadus melhorum?). A solução apresentada, vezes sem fim, é concorrência e mais liberdade no mercado, sem contabilizar os desafios inerentes no mesmo, que estou certo que têm capacidade para reconhecer. Como irá a mão invisível do mercado limitar um monopólio?

Começámos as apresentações com uma introdução ao Liberalismo pelo professor Bruno Costa, que podia facilmente ter sido mais cautelosa e menos simplista. Durante a apresentação do professor falou-se sobre o Liberalismo com definições de liberdade pessoal, e implicações de que essa liberdade só pode ser alcançada com um estado pequeno, sem se indicarem as diferenças entre Liberalismo e Libertarianismo. Igualmente problemático nestas conversas libertárias é a identificação do abuso de poder que advém da sua acumulação no estado, sem nunca identificar as consequências que resultam da concentração do mesmo no privado.

Participámos também numa mesa redonda entre Francisco José Viegas e João Miguel Tavares, na qual se falou de liberdade de expressão e wokismo. Apresentou-se uma proposta do PAN sobre alteração de provérbios, que pode ser vista como censura e que ambos os interlocutores ridicularizaram. Inquiri se não achavam que no passado foi tida a mesma conversa sobre como denominar pessoas de cor ou mulheres, e que eles poderiam estar a ser reacionários. As suas respostas foram pouco satisfatórias, com o João Miguel Tavares a mencionar que todos preferem uma agressão verbal do que “levar um murro na cara”. Infelizmente não consegui perguntar se o João gostava de ter a sua esposa repetidamente ofendida em praça pública, ou se nesse caso o murro seria preferível.

Durante toda a convenção senti este problema de simplificação ou até mesmo ingenuidade. Senti isto quando a Inês Gregório falou sobre charter schools como uma solução de mercado para o sistema educacional, em que se uma escola não conseguir obter resultados satisfatórios seria fechada sem mencionar como as crianças nessa escola seriam afetadas. Senti o mesmo quando a Zita Seabra falou sobre o 25 de Novembro sem nunca mencionar o 11 de Março. Senti o mesmo quando o Bruno Maçães falou sobre segregação em zonas de influência por parte dos EUA e China, sempre da perspectiva de ameaça chinesa, ignorando o perigo que os EUA representam. Contudo, não senti o mesmo com o António Vitorino e Jorge Moreira da Silva. Achei que foram bastante ponderados e completos nas suas análises e gostava de ter visto mais apresentações assim.

Num evento com a Helena Ferro e o Francisco da Silva sobre o tema “Populismo, desinformação e radicalismo”, a Helena mencionou e bem o perigo da Rússia para o mundo, e exemplificou-o com o investimento russo em propaganda através de alguns podcasts como o TimCast. Curiosamente nunca mencionou os investimentos israelitas consideravelmente maiores.

Questionei a Helena sobre as intenções colonistas e genocidas do projeto Sionista desde a sua concepção até à atualidade, citando decisões de congressos Sionistas e líderes Sionistas como David Ben-Gurion. Achei por bem dar esta oportunidade à Helena para distanciar do seu apoio fervente a Israel, pois ela podia não saber aquilo que defende. Infelizmente a Helena sabe exatamente aquilo que defende e decidiu debitar propaganda isrealita ao dar uma resposta simplista com pontos altamente enviesados, que qualquer pessoa com o mínimo conhecimento histórico e empatia saberia rebater.

A resposta da Helena inclui pontos como: “Israel já existe naquela zona à 3000 anos”, “Yasser Arafat era egípcio, não palestino”, “As mortes dadas no jornal Lancet são falsas e alías, já o autor veio dizer que era uma estimativa”. Curiosamente a Helena nunca respondeu aos pontos que levantei na minha questão sobre as intenções genocidas e coloniais de Israel, que de facto já foram reconhecidas pelo International Court of Justice. Achei extremamente engraçado todos os pontos que a Helena apresentou, infelizmente não tive oportunidade de responder, mas apresento aqui alguns contrapontos:

  • Devemos devolver Portugal aos Italianos e voltar à glória do império Romano?
  • Devemos ignorar que a maioria da população de Israel é emigrante oriundas da Europa ou EUA, ou devemos apontar esse facto como a Helena decidiu fazer para Yasser Arafat?
  • Helena, minha querida criminosa. O papel que foi apresentado no Lancet é, e sempre foi uma estimativa de mortos. Uma estimativa conservadora do número de mortos.

Conversas importantes sobre a comunicação social portuguesa e o seu apoio a um genocídio à parte. Este tipo de eventos são necessários em Portugal. Think tanks como o +Liberdade têm um papel fundamental de avançar o discurso político no país. Porém, é preciso reconhecer a complexidade da política e ter confiança na população portuguesa, não resumindo todas as discussões políticas a questões dogmáticas de mercado e individualismo. Os portugueses não precisam de ser salvaguardados de conversas difíceis.